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Noves fora zero


ô pouca vergonha. Acabei de sair do supermercado, que na verdade é mais uma mercearia, um mercadinho, e não compreendo como o básico foi se tornar tão caro. Não moro em cidade grande, não tenho as possibilidades de cidade grande. E possibilidade aí, não é de ir ao teatro não, vamos colocá-lo por esse instante no plano do supérfluo. Ou melhor, o orçamento pode colocá-lo no plano do supérfluo. Mas, para o necessário, uma parte do mínimo de dignidade, eu gastei 30 reais: papel higiênico que não assa a bunda; lingüiça e josé fina tanto para o feijão como para substituir a carne; cebola, por que dá pra fazer tudo com cebola (me perdoem os grandes mestres, mas ô cebola que salva minha vida...); não preciso mais de leite, em pó ou em caixinha, que é o que os mercados e congêneres oferecem; carne para hambúrguer (maravilhoso, pois ao mesmo tempo que é a medida certa daquele pedaço de bife do almoço deixa uma coisinha especial para o café da noite ); detergente; sabão em pó para lavar cuecas e tudo mais que dé. Só isso por 30 reais. Reais.

Real mesmo é esse disparate. Nessas lojas de comida tudo é restrito. Não dá pra fugir do que tá na prateleira. Qualquer dia desses irei sentar e fazer o orçamento dos preços com o dono do mercado: o senhor sabe que estamos em uma cidade que contém cerca de 30 mil habitantes, não é mesmo? Cidade pequena, então. Na zona urbana, deve ter umas cinco mil pessoas. O senhor acha que todo mundo aqui recebe um salário? O senhor acha que aqui tem o mesmo nível de empregabilidade (vou citar a palavra com toda propriedade que, assim ele acaba acreditando). Pois, seu moço... não dá pra cobrar aqui o que se cobra em Salvador. Ou em Curitiba. O senhor sabe qual o PIB de Curitiba? ( Espero que ele não responda). Pois é, estamos falando de pessoas humildes. Aliás, humildes nem sempre. Já que as prateleiras dos produtos mais bonitos estão vazias. São pobres, pobres mesmo! O senhor conhece o significado real dessa palavra? P O B R E !

Então vou lhe dá um exemplo. Pobre... pobre não é aquele pobre de espírito. Esse é mesquinho. Pobre é aquele que quase morre de fome todos os dias. Que deve sim ter sua geladeira ou Tv como apontam os índices do IBGE, mas que a geladeira está quase sempre vazia, direi a ele (apontar um instituto de tamanho peso nessa hora é bom, por que dá força ao que se diz. Ele vai tremer nas bases). E prosseguirei: pobre ou trabalha o dia inteiro para se manter, ou tem que roubar pra isso, ou morre de fome.

O senhor, por acaso, já quase morreu de fome? Já pensou que morreu de fome? O senhor já roubou? Essa eu posso responder: sim! Roubou sim.. sabe quando? Quando aquele moço de chapéu de palha comprou o básico para o mês custando 200 reais. Quando, aqueles meninos da galinhota ficam se estraçalhando pra ganhar cinquenta centavos de lucro. Lucro não, lucro quem tem é o senhor. Esses benditos cinquenta centavos, que irão dá nuns cinco reais no final do dia, nem podem ser considerados lucro. Quanto o senhor ganha no final do dia? Pois, tudo isso é roubo mesmo.

Apois, agora eu vou lhe dizer: pobre é aquele que compra com trinta reais só o que dá!